sábado, 30 de maio de 2015

PUBALGIA: SINAIS, SINTOMAS E TRATAMENTO

A
Pubalgia: sinais, sintomas e tratamentoQuase todos os atletas já ouviram falar em pubalgia e muitos já sofreram com este problema, no entanto pubalgia ainda é um termo envolto em várias dúvidas e mal-entendidos.
O termo genérico pubalgia não se refere a nenhuma patologia em específico, significando apenas dor localizada na sínfise púbica e nas inserções musculares adjacentes, geralmente originada por uma disfunção no sistema músculo-esquelético.
Esta dor pode resultar de uma lesão aguda, acompanhada de processo inflamatório, conhecida como osteíte púbica, ou de um processo crónico, a que se pode chamar lesão por stress da sínfise púbica.
A sínfise púbica é uma articulação relativamente imóvel, localizada na região central à frente da bacia, um “anel” ósseo que suporta e distribui o peso de toda a parte superior do corpo. Para além disso esta articulação tem próximo de si a inserção dos abdominais, dos adutores da coxa e dos músculos do pavimento pélvico.
Estes dois factos tornam mais fácil compreender porque qualquer alteração na relação de forças aplicadas num ponto da bacia, uma dismetria no comprimento dos membros inferiores ou um desequilíbrio muscular podem mudar significativamente a tensão aplicada sobre a sínfise púbica, causando primariamente uma inflamação desta articulação, podendo depois evoluir para um processo degenerativo crónico.
A pubalgia e a corrida
As lesões da sínfise púbica representam 0.5-7% de todas as lesões no desporto e afectam sobretudo os corredores de longas distâncias. As causas mais comuns para a osteíte púbica (inflamação da sínfise púbica) são:
  • O desequilíbrio das forças dos músculos que se inserem próximo à sínfise púbica, especialmente os adutores da coxa.
  • Disfunção da articulação sacro-iliaca (região posterior da bacia), provocando um aumento de tensão na sínfise púbica.
  • A alteração da superfície de treino, geralmente acontece no sentido da superfície mais suave para a mais dura.
  • Os microtraumatimos repetitivos, resultantes do esforço físico excessivo.
  • Forças de cisalhamento aplicadas à sínfise púbica características de movimentos rápidos combinados com desvios laterais, característicos de corridas em terrenos irregulares.
Estudos recentes revelam que o processo inflamatório está presente por relativamente pouco tempo, sendo que, se não for devidamente acompanhada, rapidamente esta lesão se transforma num processo crónico, com alteração das estruturas músculo-esqueléticas adjacentes à articulação.
Sinais e sintomas/ Diagnóstico
  • Dor persistente na virilha durante a corrida, exercícios abdominais e agachamentos, que raramente é impeditiva, mas poderá ser bastante desconfortável.
  • Dor na virilha que se desenvolve gradualmente, podendo ser confundida com uma lesão muscular.
  • Limitação da amplitude de rotação da articulação da anca.
  • Em casos graves pode provocar caudicação.
Uma boa avaliação, incluindo uma história clínica, exame da anca, pélvis, lombar e articulação sacro-iliaca são necessários para ajudar ao diagnóstico de uma lesão da sínifise púbica. Um raio-X poderá confirmar o diagnóstico, demonstrando uma sínfise púbica irregular, com sinais de espessamento do osso e inflamação. Para além disso uma ecografia é frequentemente pedida para confirmar o estado dos tecidos moles envolventes.
Tratamento
O tratamento em fisioterapia, na fase inicial, consiste e controlar os sinais inflamatórios, através de:
  • Descanso: é o conceito-chave de toda a recuperação. É fundamental que repouse de todas as actividades que causam dor. Se dormir de lado deve colocar uma almofada entre as pernas. Repouso não significa parar, pelo contrário, se correr causar dor, mantenha o treino, mas apenas a caminhar, e se mesmo assim sentir dor, diminua o tempo que caminha.
  • Gelo: Aplique uma compressa de gelo na área lesada, colocando uma toalha fina entre o gelo e a pele. Use o gelo por 15 minutos e depois espere pelo menos 45 minutos antes de aplicar gelo novamente.
  • Analgésicos e anti-inflamatórios não-esteróides poderão ser receitados pelo médico para controlar o processo inflamatório e aliviar as dores.
Após a fase inflamatória (2-3 dias) o seu fisioterapeuta poderá recorrer às seguintes técnicas para restaurar o normal funcionamento da articulação:
  • Alongamento dos músculos inseridos próximo da sínfise púbica, particularmente dos adutores da coxa. Devem ser realizados progressivamente e sem provocar dor
  • Mobilizações articulares da anca para ganho de amplitude de rotação
  • Manipulações articulares da sacro-iliaca e sínfise púbica devem ser realizadas apenas por fisioterapeutas mais experientes.
  • O fisioterapeuta poderá aplicar ultra-sons na região da sínfise púbica e próxima à inserção dos músculos adutores para reduzir a dor e controlar o processo inflamatório. Deve ser utilizado apenas em atletas em que a fase de crescimento já tenha terminado.
  • Plano de exercícios terapêuticos para realizar no domicílio que inclua movimentos de rotação da pélvis, e mobilização da coluna lombar e ancas.
  • Assim que os sintomas permitirem, fortalecimento dos músculos inseridos próximo da sínfise púbica, particularmente dos adutores da coxa. Devem ser realizados progressivamente e sem provocar dor. Um aquecimento com técnicas de facilitação neuromuscular propioceptiva poderá melhorar as propriedades do tecido muscular
  • A aplicação de calor antes dos exercícios para aumentar a irrigação sanguínea e de gelo no final para prevenir sinais inflamatórios.
  • Educação do paciente e plano de retorno gradual à actividade.
Exercícios terapêuticos para a pubalgia
Os seguintes exercícios são geralmente prescritos durante a reabilitação de uma lesão da sínfise púbica. Deverão ser realizados 2 a 3 vezes por dia e apenas na condição de não causarem ou aumentarem os sintomas.
Pubalgia: sinais, sintomas e tratamento
Fortalecimento do transverso do abdómen Deitado, com o elástico à volta da cintura. Pressionar o fundo das costas contra o chão e tentar diminuir o diâmetro da cintura. Mantenha a contracção durante 8 segundos. Retorne lentamente à posição inicial. Repita entre 8 e 12 vezes, desde que não desperte nenhum sintoma.


Pubalgia: sinais, sintomas e tratamento
Alongamento dos adutores da coxa Em pé, com as pernas afastadas, empurre a bacia para o lado contrário ao músculo a alongar, de seguida, com as costas alinhadas, incline ligeiramente o tronco à frente até sentir o alongamento na região interna da coxa e virilha. Mantenha a posição durante 20 segundos. Alivie lentamente a pressão. Repita entre 5 a 10 vezes, desde que não desperte nenhum sintoma.







Fortalecimento dos extensores da anca Deitado, com os braços ao longo do corpo, eleve a bacia até coxas e costas ficarem alinhadas no mesmo plano. Retorne lentamente à posição inicial. Repita entre 8 e 12 vezes, desde que não desperte nenhum sintoma.
Antes de iniciar estes exercícios deve sempre aconselhar-se com o seu fisioterapeuta.
Referências
Hiti CJ, Stevens KJ, Jamati MK, Garza D, Matheson GO. Athletic osteitis pubis. Sports Med. 2011 May 1;41(5):361-76.
Fricker PA, Taunton JE, Ammann W. Osteitis pubis in athletes. Infection, inflammation or injury? Sports Med. 1991 Oct;12(4):266-79.
Johnson R. Osteitis pubis. Curr Sports Med Rep. 2003 Apr;2(2):98-102.
Major NM, Helms CA. Pelvic stress injuries: the relationship between osteitis pubis (symphysis pubis stress injury) and sacroiliac abnormalities in athletes. Skeletal Radiol. 1997 Dec;26(12):711-7.
Autor: João Carlos Maia – Fisioterapeuta

Nenhum comentário:

Postar um comentário